Tenho corrigido redações. Centenas delas. Se por um lado é um trabalho interessante, que gera um dinheiro interessante, por outro me deprime ver a imensa falta de idéias próprias que os vestibulandos pregam. E o pior é que essas nem são do pré-vestibular em que trabalho, o que diagnostica que o embotamento é geral. Felizmente, em 300, salva-se uma. Tocante. Coloco-a aqui, sem a licença da autora. Para fins didáticos, digamos. O tema? O tema não importa. Importa a sensibilidade. A sutileza em retratar uma realidade tão horrenda. A poesia que, ainda agora, me faz ficar ligeiramente engasgada ao reler o texto.
Hoje meu melhor amigo morreu. Lembro-me da primeira vez que eu o vi, com a cabeça erguida e olhos admirados, observando o imponente prédio recém-construído. Debruçado sobre a janela, eu observava aquele menino de chinelos, enquanto esperava meu pai instalar o meu novo "vídeo-game". Poucos dias depois jogávamos futebol juntos, no velho campinho que separava a favela da zona-sul. Em algum momento, eu soube que seríamos amigos para sempre. O tempo passou, crescemos em estatura e na amizade. Eu ia para a faculdade, viajava nas férias e gastava minha mesada no fim de semana; ele ajudava o pai a construir e embalar pipas, que os dois vendiam no sinal. Eu estava lá no dia em que ele chorou, porque não podia mais estudar, e não pude fazer nada. Queria ajudar, pedir a meu pai que pagasse seus estudos, mas eu sabia que seria em vão. Às vezes falatava luz na favela e eu esperava meus pais saírem para que ele entrasse e tomasse um banho. Tantas vezes eu vi meu amigo passar fome, junto com sua família, e ofereci meu dinheiro sem hesitar. Tantas vezes ele não aceitou, orgulhoso, e eu mandei que um moleque entregasse algumas compras escondido. Hoje ele não está aqui. Morreu aos 23 anos, de bala perdida. Pobre, sofrido, excluído socialmente, honesto, sonhador, digno... meu amigo... morto.
Hoje meu melhor amigo morreu. Lembro-me da primeira vez que eu o vi, com a cabeça erguida e olhos admirados, observando o imponente prédio recém-construído. Debruçado sobre a janela, eu observava aquele menino de chinelos, enquanto esperava meu pai instalar o meu novo "vídeo-game". Poucos dias depois jogávamos futebol juntos, no velho campinho que separava a favela da zona-sul. Em algum momento, eu soube que seríamos amigos para sempre. O tempo passou, crescemos em estatura e na amizade. Eu ia para a faculdade, viajava nas férias e gastava minha mesada no fim de semana; ele ajudava o pai a construir e embalar pipas, que os dois vendiam no sinal. Eu estava lá no dia em que ele chorou, porque não podia mais estudar, e não pude fazer nada. Queria ajudar, pedir a meu pai que pagasse seus estudos, mas eu sabia que seria em vão. Às vezes falatava luz na favela e eu esperava meus pais saírem para que ele entrasse e tomasse um banho. Tantas vezes eu vi meu amigo passar fome, junto com sua família, e ofereci meu dinheiro sem hesitar. Tantas vezes ele não aceitou, orgulhoso, e eu mandei que um moleque entregasse algumas compras escondido. Hoje ele não está aqui. Morreu aos 23 anos, de bala perdida. Pobre, sofrido, excluído socialmente, honesto, sonhador, digno... meu amigo... morto.
4 comentários:
Achei muito caricatural....muito embora a vida tb seja assim, às vezes
É vc quem posta e depois apaga, Quel? Fico morta de curiosidade...
Fui eu quem apagou. Tinha um erro... rsrsrs
Postar um comentário