quinta-feira, julho 23, 2009
AMEI ISSO!
Ei, Quel! Estava eu de férias, à toinha, à toinha, entre o Triste fim de Policarpo Quaresma e as intermináveis vozinhas dos meninos (ora brincando, ora brigando), quando descobri que o geocities vai ser fechado. Corri para salvar todas as imagens dos blogs em outro lugar e: 1) descobri que o blogger está muuuuuuito melhor e mais fácil; 2) fiquei fuçando e achei o blog Mão feita, que é o verdadeiro motivo de criar este post. Já o adicionei aos nossos links. Beijos.
terça-feira, julho 14, 2009
Sábia de mim...
"Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. " (Fernando Pessoa)
sábado, maio 10, 2008
Dia das mães
ORAÇÃO DAS MÃES
Senhor, fazei que eu me lembre mais das minhas responsabilidades do que dos meus privilégios.
Que eu saiba amar meus filhos sem intenção alguma de possuí-los.
Que eu conquiste o respeito dos meus filhos em lugar de exigi-lo.
Que eu seja compassiva e compreensiva ante aos defeitos deles,
sendo forte também para corrigi-los,
não tendo nunca amor de "vista grossa",
o triste falso amor sabe apenas fazer todas as vontades das crianças.
Que eu tente projetar no coração de meus filhos a vossa imagem de Pai
e que minha imagem de mãe seja um reflexo de vossa imagem de Pai.
Que eu faça crescer, estes meus filhos, bem mais por dentro do que por fora.
Que a fertilidade do meu ventre não seja maior do que a sublime fecundidade da minha alma de mãe.
E que esta alma de mãe seja uma cópia do vosso grande coração de Pai.
Amém.
Que eu saiba amar meus filhos sem intenção alguma de possuí-los.
Que eu conquiste o respeito dos meus filhos em lugar de exigi-lo.
Que eu seja compassiva e compreensiva ante aos defeitos deles,
sendo forte também para corrigi-los,
não tendo nunca amor de "vista grossa",
o triste falso amor sabe apenas fazer todas as vontades das crianças.
Que eu tente projetar no coração de meus filhos a vossa imagem de Pai
e que minha imagem de mãe seja um reflexo de vossa imagem de Pai.
Que eu faça crescer, estes meus filhos, bem mais por dentro do que por fora.
Que a fertilidade do meu ventre não seja maior do que a sublime fecundidade da minha alma de mãe.
E que esta alma de mãe seja uma cópia do vosso grande coração de Pai.
Amém.
sábado, janeiro 26, 2008
Um tanto de polêmica.
"A manga pendente num galho: tão linda, tão vermelha. Mas o tempo chega quando ela quer morrer. A criança brinca o dia inteiro. Chegada a noite, ela está cansada. Ela quer dormir. Que crueldade seria impedir que a criança dormisse quando o seu corpo quer dormir.A vida não pode ser medida por batidas e coração ou ondas elétricas. Como um instrumento musical, a vida só vale a pena ser vivida enquanto o corpo for capaz de produzir música, ainda que seja a de um simples sorriso. Admitamos, para efeito de argumentação, que a vida é dada por Deus e que somente Deus tem o direito de tirá-la. Qualquer intervenção mecânica ou química que tenha por objetivo fazer com que a vida dê o seu acorde final seria pecado, assassinato. Vamos levar o argumento à suas últimas conseqüências: se Deus é o senhor da vida e também o senhor da morte, qualquer coisa que se faça para impedir a morte, que aconteceria inevitavelmente, se o corpo fosse entregue à vontade de Deus, sem os artifícios humanos para prolongá-la, seriam também uma transgressão da vontade divina. Tirar a vida artificialmente seria tão pecaminoso quanto impedir a morte artificialmente, porque se trata de intromissões dos homens na ordem natural das coisas determinada por Deus." Rubem Alves
quinta-feira, outubro 25, 2007
sábado, outubro 06, 2007
Desabafo
Essa história da menininha no rio Arrudas expôs meus sentimentos mais obtusos.
Cheguei ao cúmulo de me pegar pensando que a sorte dessa mulher é que ela vai prestar contas a Deus, que é bom e misericordioso. Porque se fosse a mim, ela já estaria condenada.
Cheguei ao cúmulo de me pegar pensando que a sorte dessa mulher é que ela vai prestar contas a Deus, que é bom e misericordioso. Porque se fosse a mim, ela já estaria condenada.
terça-feira, outubro 02, 2007
Não resisti!
Bom dia, Quel! Eu estava procurando um texto pra dar uma aula hoje, mas não resisti a colocar este aqui. Divirta-se.
Beijo.
Como nasce uma história
Fernando Sabino
Beijo.
Como nasce uma história
Fernando Sabino
Quando cheguei ao edifício, tomei o elevador que serve do primeiro ao décimo quarto andar. Era pelo menos o que dizia a tabuleta no alto da porta.
— Sétimo — pedi.
Eu estava sendo aguardado no auditório, onde faria uma palestra. Eram as secretárias daquela companhia que celebravam o Dia da Secretária e que, desvanecedoramente para mim, haviam-me incluído entre as celebrações.
A porta se fechou e começamos a subir. Minha atenção se fixou num aviso que dizia:
É expressamente proibido os funcionários, no ato da subida, utilizarem os elevadores para descerem.
Desde o meu tempo de ginásio sei que se trata de problema complicado, este do infinito pessoal. Prevaleciam então duas regras mestras que deveriam ser rigorosamente obedecidas, quando se tratava do uso deste traiçoeiro tempo de verbo. O diabo é que as duas não se complementavam: ao contrário, em certos casos francamente se contradiziam. Uma afirmava que o sujeito, sendo o mesmo, impedia que o verbo se flexionasse. Da outra infelizmente já não me lembrava. Bastava a primeira para me assegurar de que, no caso, havia um clamoroso erro de concordância.
Mas não foi o emprego pouco castiço do infinito pessoal que me intrigou no tal aviso: foi estar ele concebido de maneira chocante aos delicados ouvidos de um escritor que se preza.
Ah, aquela cozinheira a que se refere García Márquez, que tinha redação própria! Quantas vezes clamei, como ele, por alguém que me pudesse valer nos momentos de aperto, qual seja o de redigir um telegrama de felicitações. Ou um simples aviso como este:
É expressamente proibido os funcionários...
Eu já começaria por tropeçar na regência, teria de consultar o dicionário de verbos e regimes: não seria aos funcionários? E nem chegaria a contestar a validade de uma proibição cujo aviso se localizava dentro do elevador e não do lado de fora: só seria lido pelos funcionários que já houvessem entrado e portanto incorrido na proibição de pretender descer quando o elevador estivesse subindo. Contestaria antes a maneira ambígua pela qual isto era expresso:
. . . no ato da subida, utilizarem os elevadores para descerem.
Qualquer um, não sendo irremediavelmente burro, entenderia o que se pretende dizer neste aviso. Pois um tijolo de burrice me baixou na compreensão, fazendo com que eu ficasse revirando a frase na cabeça: descerem, no ato da subida? Que quer dizer isto? E buscava uma forma simples e correta de formular a proibição:
É proibido subir para depois descer.
É proibido subir no elevador com intenção de descer.
É proibido ficar no elevador com intenção de descer, quando ele estiver subindo.
Descer quando estiver subindo! Que coisa difícil, meu Deus. Quem quiser que experimente, para ver só. Tem de ser bem simples:
Se quiser descer, não torne o elevador que esteja subindo.
Mais simples ainda:
Se quiser descer, só tome o elevador que estiver descendo.
De tanta simplicidade, atingi a síntese perfeita do que Nelson Rodrigues chamava de óbvio ululante, ou seja, a enunciação de algo que não quer dizer absolutamente nada:
Se quiser descer, não suba.
Tinha de me reconhecer derrotado, o que era vergonhoso para um escritor.
Foi quando me dei conta de que o elevador havia passado do sétimo andar, a que me destinava, já estávamos pelas alturas do décimo terceiro.
— Pedi o sétimo, o senhor não parou! — reclamei.
O ascensorista protestou:
— Fiquei parado um tempão, o senhor não desceu.
Os outros passageiros riram:
— Ele parou sim. Você estava aí distraído.
— Falei três vezes, sétimo! sétimo! sétimo!, e o senhor nem se mexeu — reafirmou o ascensorista.
— Estava lendo isto aqui — respondi idiotamente, apontando o aviso.
Ele abriu a porta do décimo quarto, os demais passageiros saíram.
— Convém o senhor sair também e descer noutro elevador. A não ser que queira ir até o último andar e na volta descer parando até o sétimo.
— Não é proibido descer no que está subindo?
Ele riu:
— Então desce num que está descendo.
— Este vai subir mais? — protestei: — Lá embaixo está escrito que este elevador vem só até o décimo quarto.
— Para subir. Para descer, sobe até o último.
— Para descer sobe?
Eu me sentia um completo mentecapto. Saltei ali mesmo, como ele sugeria. Seguindo seu conselho, pressionei o botão, passando a aguardar um elevador que estivesse descendo.
Que tardou, e muito. Quando finalmente chegou, só reparei que era o mesmo pela cara do ascensorista, recebendo-me a rir:
— O senhor ainda está por aqui?
E fomos descendo, com parada em andar por andar. Cheguei ao auditório com 15 minutos de atraso. Ao fim da palestra, as moças me fizeram perguntas, e uma delas quis saber como nascem as minhas histórias. Comecei a contar:
— Quando cheguei ao edifício, tomei o elevador que serve do primeiro ao décimo quarto andar. Era pelo menos o que dizia a tabuleta no alto da porta.
— Sétimo — pedi.
Eu estava sendo aguardado no auditório, onde faria uma palestra. Eram as secretárias daquela companhia que celebravam o Dia da Secretária e que, desvanecedoramente para mim, haviam-me incluído entre as celebrações.
A porta se fechou e começamos a subir. Minha atenção se fixou num aviso que dizia:
É expressamente proibido os funcionários, no ato da subida, utilizarem os elevadores para descerem.
Desde o meu tempo de ginásio sei que se trata de problema complicado, este do infinito pessoal. Prevaleciam então duas regras mestras que deveriam ser rigorosamente obedecidas, quando se tratava do uso deste traiçoeiro tempo de verbo. O diabo é que as duas não se complementavam: ao contrário, em certos casos francamente se contradiziam. Uma afirmava que o sujeito, sendo o mesmo, impedia que o verbo se flexionasse. Da outra infelizmente já não me lembrava. Bastava a primeira para me assegurar de que, no caso, havia um clamoroso erro de concordância.
Mas não foi o emprego pouco castiço do infinito pessoal que me intrigou no tal aviso: foi estar ele concebido de maneira chocante aos delicados ouvidos de um escritor que se preza.
Ah, aquela cozinheira a que se refere García Márquez, que tinha redação própria! Quantas vezes clamei, como ele, por alguém que me pudesse valer nos momentos de aperto, qual seja o de redigir um telegrama de felicitações. Ou um simples aviso como este:
É expressamente proibido os funcionários...
Eu já começaria por tropeçar na regência, teria de consultar o dicionário de verbos e regimes: não seria aos funcionários? E nem chegaria a contestar a validade de uma proibição cujo aviso se localizava dentro do elevador e não do lado de fora: só seria lido pelos funcionários que já houvessem entrado e portanto incorrido na proibição de pretender descer quando o elevador estivesse subindo. Contestaria antes a maneira ambígua pela qual isto era expresso:
. . . no ato da subida, utilizarem os elevadores para descerem.
Qualquer um, não sendo irremediavelmente burro, entenderia o que se pretende dizer neste aviso. Pois um tijolo de burrice me baixou na compreensão, fazendo com que eu ficasse revirando a frase na cabeça: descerem, no ato da subida? Que quer dizer isto? E buscava uma forma simples e correta de formular a proibição:
É proibido subir para depois descer.
É proibido subir no elevador com intenção de descer.
É proibido ficar no elevador com intenção de descer, quando ele estiver subindo.
Descer quando estiver subindo! Que coisa difícil, meu Deus. Quem quiser que experimente, para ver só. Tem de ser bem simples:
Se quiser descer, não torne o elevador que esteja subindo.
Mais simples ainda:
Se quiser descer, só tome o elevador que estiver descendo.
De tanta simplicidade, atingi a síntese perfeita do que Nelson Rodrigues chamava de óbvio ululante, ou seja, a enunciação de algo que não quer dizer absolutamente nada:
Se quiser descer, não suba.
Tinha de me reconhecer derrotado, o que era vergonhoso para um escritor.
Foi quando me dei conta de que o elevador havia passado do sétimo andar, a que me destinava, já estávamos pelas alturas do décimo terceiro.
— Pedi o sétimo, o senhor não parou! — reclamei.
O ascensorista protestou:
— Fiquei parado um tempão, o senhor não desceu.
Os outros passageiros riram:
— Ele parou sim. Você estava aí distraído.
— Falei três vezes, sétimo! sétimo! sétimo!, e o senhor nem se mexeu — reafirmou o ascensorista.
— Estava lendo isto aqui — respondi idiotamente, apontando o aviso.
Ele abriu a porta do décimo quarto, os demais passageiros saíram.
— Convém o senhor sair também e descer noutro elevador. A não ser que queira ir até o último andar e na volta descer parando até o sétimo.
— Não é proibido descer no que está subindo?
Ele riu:
— Então desce num que está descendo.
— Este vai subir mais? — protestei: — Lá embaixo está escrito que este elevador vem só até o décimo quarto.
— Para subir. Para descer, sobe até o último.
— Para descer sobe?
Eu me sentia um completo mentecapto. Saltei ali mesmo, como ele sugeria. Seguindo seu conselho, pressionei o botão, passando a aguardar um elevador que estivesse descendo.
Que tardou, e muito. Quando finalmente chegou, só reparei que era o mesmo pela cara do ascensorista, recebendo-me a rir:
— O senhor ainda está por aqui?
E fomos descendo, com parada em andar por andar. Cheguei ao auditório com 15 minutos de atraso. Ao fim da palestra, as moças me fizeram perguntas, e uma delas quis saber como nascem as minhas histórias. Comecei a contar:
— Quando cheguei ao edifício, tomei o elevador que serve do primeiro ao décimo quarto andar. Era pelo menos o que dizia a tabuleta no alto da porta.
(Extraída do livro "A Volta Por Cima", Editora Record - Rio de Janeiro, 1990, pág. 137.)
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